A doce e ácida Duquesa.
Uma das cervejas mais desejadas do mundo está de volta ao Brasil
Por Rodrigo Sena - Sommelier de Cervejas | 19 de Dezembro 2018
Maria de Borgonha foi uma mulher forte, que viveu desde pequena sob muita pressão no antigo Ducado de Borgonha, na Bélgica do século XV. Ela era a única herdeira direta do Duque Philip e desde os 5 anos de idade era cobiçada por príncipes de toda a Europa. Aos 20 anos de idade seu pai morreu em uma batalha e ela assumiu o Ducado ganhando o título de Duquesa de Borgonha. Resistiu bravamente às investidas do Rei Loius XI da França, mantendo a independência de Borgonha e dando poderes a algumas regiões que mais tarde se tornariam a Holanda. Casou-se com o Arqueduque Maximiliano da Áustria e tragicamente morreu aos 25 anos depois de um acidente de cavalo em uma caçada de lazer.
Toda essa história e legado deixado pela Duquesa foram eternizados em uma das cervejas mais emblemáticas do mundo: a Duchesse de Bourgogne, que começou a ser produzida no início do século XX pela cervejaria familiar Verhaeghe,no oeste da região de Flanders. A Cervejaria, assim como a Duquesa, também teve seu papel político na história Belga, resistindo à invasão Alemã durante as Guerras. Com isso acabou completamente destruída pelos nazistas e só depois de muito tempo após o fim da guerra conseguiu retomar a produção. Mérito total à família que não desistiu do sonho de seu fundador Paul Verhaeghe.
Por isso além de toda complexidade de aromas e sabores, além de ter um caráter sensorial único, a Duchesse de Bourgogne é uma cerveja que contém história com ingrediente. Quando a degustamos estamos sensorialmente envolvidos com suas notas doces do malte acentuado, ácidas remetendo à frutas vermelhas, seu final ao melhor estilo de vinhos demi-sec. Mas ao tomarmos estamos também emocionalmente ligados com seu sentido histórico.
Tecnicamente, a Duchesse de Bourgogne é um clássico: é uma cerveja de fermentação mista, que passa por todo o processo comum de produção, e após fermentação e maturação ela vai descansar em barris de carvalho por 18 meses. Esse repouso faz com que as bactérias e os taninos da madeira acidifiquem a cerveja, puxando para o lado balsâmico e frutado. Para ir para a garrafa é feito um blend entre a cerveja maturada por 18 meses e safras mais novas com 8 meses em média, para equilibrar acidez e dulçor. O resultado é um espatáculo: é de longe a cerveja que mais se parece com um excelente vinho tinto frutado e ácido.
A cervejaria Verhaeghe lançou esse ano a Duchesse Cherry, onde a base da cerveja envelhecida por 18 meses é blendada com uma safra mais nova que ficou em média 8 meses em barris com muita, mas muita Cereja de Limburg, que é mais escura e mais ácida. Pode parecer que não, mas a cereja muda totalmente a cerveja, inclusive sob o aspecto da fermentação, ficando mais seca e mais carbonatada do que a tradicional. Novamente, um espetáculo de aromas e sabores.
O bom de tudo isso é que após 2 anos longe do Brasil, a nossa querida Duquesa voltou. A distribuidora Hey Hops trouxe o primeiro contêiner da Bélgica esse mês e está abastecendo, por enquanto, a Grande São Paulo com a Duchesse tradicional e com a Cherry.
Participei de uma degustação no adega-bar Let´s Beer na Vila Mariana. Lá aliás é um dos ótimos lugares para provar as duas Duchesses, inclusive harmonizando com o excelente cardápio do bar. Para quem é fã de cervejas e ainda não conhece a Duchesse de Bourgogne essa é a hora! E para quem conhece, como eu, é sempre bom revisitar os encantos da nossa duquesa predileta. Santè!
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