A história do café no Brasil
Saiba como o café foi responsável por alavancar a economia brasileira
Por Michelly Lelis | 14 de Abril 2020
O brasileiro possui uma paixão pelo café. Isso todo mundo já sabe, mas como a bebida e a sua plantação chegou ao Brasil? O grão que, segundo os historiadores, veio da região das montanhas da Etiópia, chegou no território brasileiro por volta do século XVIII e se tornou uma das principais mercadorias de exportação da economia brasileiras nos anos seguintes, garantindo as divisas necessárias à sustentação durante o período de Imperialismo e República Velha. Foi no ano de 1727 que o oficial português Francisco de Mello Palheta, vindo da Guiana Francesa, trouxe as primeiras mudas de rubiácea, plantadas na região do estado do Pará, onde floresceram sem dificuldade.
No entanto, não foi na região Norte do país em que a nova planta iria se tornar a principal fonte de riqueza. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos, o consumo da bebida crescia, o café chegou à região Sudeste, mais precisamente, no estado do Rio de Janeiro, onde começou a ser plantado em 1781 por João Alberto de Castello Branco. Em curto tempo, chegou a São Paulo, que, a partir da década de 1880, passou a ser o principal produtor nacional do café. Ao terminar o século XIX, o Brasil já controlava grande parte do mercado cafeeiro mundial.
A partir de então, foram lucros e mais lucros rendidos pelos barões do café, o que resultou no avanço da urbanização, como o surgimento das entradas de ferro, entrada de imigrantes europeus, abertura do Porto de Santos, deslocamento do centro de poder político do Nordeste para o Sudeste e até o refinamento dos modos e costumes da época. É importante lembrar que a cafeicultura no Brasil beneficiou da estrutura escravista, sendo incorporada ao sistema platation, caracterizado pela monocultura voltada para a exportação, a mão de obra escrava e o cultivo em grandes latifúndios, além da região proporcionar clima e solo bons para o seu desenvolvimento.
Fazendas de café no Brasil
As primeiras fazendas de café em São Paulo, ficavam na região do Vale do Paraíba e exigiram muito esforço de seus fundadores. Para a iniciar o processo de plantação de café na região foi necessário derrubar a mata, escolher o local da sede e a construção de um galpão provisório. Após os feitos, era ainda necessário formar um pomar e hortas para o consumo próprio e então, plantar o café. Além da casa da família do proprietário, a fazenda possuía o lavador de café, o terreiro para a sua secagem, de terra ou calçado; o engenho para beneficiamento dos grãos (engenho de café); as tulhas para armazenagem do café seco a ser beneficiado; e, ainda, a senzala, que abrigava a escravaria, a mão-de-obra envolvida na produção do café. No entanto, as fazendas variavam de acordo com o seu porte, no qual podia ou não existir outras edificações e áreas vinculadas ao empreendimento.
Crise de 1929 no Brasil
Os efeitos da Primeira Guerra Mundial permaneceram por muito tempo. Enquanto o conflito ainda acontecia, os Estados Unidos possuíam a sua economia em pleno desenvolvimento e tinha os países europeus como o seu principal comprador. Após o fim da Grande Guerra, o cenário não mudou, pois esses países precisavam reconstruir suas cidades e indústrias, mantendo sua importações, principalmente dos EUA. No entanto, a situação começou a mudar no final da década de 1920: reconstruídas, não precisavam dos produtos do país norte-americano como antes.
Com a diminuição das exportações, os estoques norte-americanos começaram a armazenar produtos que não eram vendidos. Grande parte das empresas possuíam ações na Bolsa de Valores de New York e milhões de norte-americanos tinham investimentos nestas ações. Em outubro de 1929 ocorreu a quebra da bolsa, com efeito devastador, pessoas muito ricas passaram, da noite para o dia, para a classe pobre e o desemprego atingiu quase 30% dos trabalhadores.
O cenário não demorou muito para atingir o Brasil. Os Estados Unidos eram o maior comprador do café brasileiro e, com a crise, a importação diminuiu e os preços do café brasileiro caíra. Pensando em não ocasionar na desvalorização excessiva, o Governo brasileiro comprou e queimou toneladas de café e, dessa forma, diminuiu a oferta, mas conseguiu-se manter o preço do principal produto brasileiro na época. Além disso, o episódio fez com que muitos cafeicultores iniciarem o investimento no setor industrial, o que ajudou a alavancar a indústria brasileira neste período.
A influência do café na economia e industrialização do Brasil
Durante o período da República Velha, a economia brasileira se centrou em torno do café. Os processos de urbanização e o início da indústria no Brasil estão ligados a esse produto, como já visto. O produto liderava a exportação na época, seguido pela borracha, açúcar e outros insumos. Ne época, o estado de São Paulo conduzia a produção de café e também determinava as diretrizes do cenário político. Foi durante a década de 1910 e 1920 que as industriais começaram a se tornar bastante expressivas, devido a intensa exportação de café e importação de outros produtos necessários ao mercado interno brasileiro, vários produtores de café passaram a investir nas fábricas. Os principais tipos de atividades industriais do período estavam relacionados aos setores têxtil, de bebidas e alimentos.
A modernização agrícola contribuiu para que a indústria se desenvolvesse. Além disso, para dar uma certa estabilidade na produção industrial, foi necessário o controle do valor da moeda brasileira. O motivo, era para não correr o risco de ter o principal produto de exportação, o café, desvalorizado no mercado internacional. Dessa forma, por vezes, o Governo priorizava o café ao invés da atividade industrial. Apenas a partir da década de 1930, na conhecida Era Vargas, esse cenário começou a mudar.
O café no Brasil hoje
Ainda atualmente, o Brasil é um dos maiores exportadores de café no mercado mundial, além de ser um dos países que mais consome a bebida. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a cafeicultura brasileira é uma das mais exigentes do mundo, em relação às questões sociais e ambientais, além das leis serem mais rigorosas entre os países produtores de café. Minas Gerais é o maior estado produtor de café do Brasil, no qual representa 50% da produção nacional, seguido por Espírito Santo. São Paulo está em terceiro, com produção exclusiva de café arábica, distribuída em duas regiões: Mogiana e Centro-Oeste Paulista, que alternam fazendas com pequenas propriedades e produzem cafés especiais em áreas específicas. O porto de Santos, localizado no litoral paulista, escoa cerca de 2/3 das exportações de café do Brasil.